quinta-feira, 18 de outubro de 2012

O dia do semi deus


Estava sentada num daqueles restaurantes da moda (para não dizer daqueles baratos). Era pouco mais de meio dia, e pela primeira vez na vida ela viu as pessoas da cidade grande respeitarem o horário do almoço. Já falei que o restaurante estava lotado?
Ela tinha verdadeira adoração por tudo aquilo. Movimentação, barulho de buzina, ruas lotadas, pessoas caminhando apressadas. Muitas pessoas a achavam louca, mas ela era feliz.
Aquela tarde seria livre de todo e qualquer compromisso, então só restava terminar a sua refeição e de dirigir pra qualquer cafeteria que servisse um bom expresso. Foi então que ele apareceu. Nunca dantes (pelo menos naquela semana) ela tivera visto alguém tão bonito. Porte escultural, digno de atleta grego. Jurou que aquele homem tivesse saído de algum filme inglês. Mesmo que os trajes dele, simples camiseta (sem nenhuma estampa), jeans , adidas star e mochila ao ombro, o fizessem parecer comum ao meio daquele mar de gente.
Ele chegou perto, ela sorriu. Ele sorriu, ela imaginou um mundo de coisas. Finalmente ele chegou perto, ela tremeu. E então ele falou:- “oi, dá pa mim senta aqui?”.
O mundo parou naquele instante. Não pergunte o porquê, a mente faz essas ilusões acontecerem, e faz o “filme” passar em uma fração de segundo. E foi isso que aconteceu.
Imaginou ela delirando no natal com aquela coleção básica de História da arte, que seus padrinhos trouxeram de Paris, enquanto ele vibrava com o novo PES. Imaginou mais um governo entrando em crise financeira na Europa, e ele escandalizado com o preço do energético. Imaginou a reunião básica com os antigos colegas, enquanto ele olhava pra todo mundo como E.T. Imaginou também, ela debatendo com amigos sobre as próximas eleições, e ele simplesmente votando em qualquer um, pois, “não gosta de política”.  Ficou horrorizada ao sequer pensar em querer trocar alguma ideia sobre economia, política, filosofia, e receber  em troca um “vamos namorar que é mais divertido”. Pior ainda quase teve um surto psicótico ao pensar as suas amigas descrevendo ele: LINDO!! Pena que é meio burro...
 Não precisa nem falar no resto. O que ela sempre prezou no sexo oposto foi a inteligência, assim como vivia criticando o irmão caçula por sempre estar rodeado dessas tal de “piriguetes”. Não, não, ela não fazia o tipo lady, longe disso. Sempre gostou de vídeo game, balada, musica de todos os tipos, jogava bola, tinha até, muitas vezes, pensamento um tanto quanto masculinos, mas o que diferenciava ela a educação (criada numa família onde os livros eram mais importantes que o resto). Por isso quando ela conseguiu se recuperar do baque inicial que aquele assassinato à língua portuguesa lhe tivera causado, ela sorriu novamente (só deus sabe de onde ela tira esses sorrisos maquiavélicos), e disse:- “fique à vontade. Eu já estava saindo”. Deixou ali, além de um prato de fetuccinni, um semi deus, porque pra deus grego mesmo faltava a inteligência.

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